Você já ouviu falar sobre neuropsicologia, uma especialidade da psicologia? Tem interesse em fazer uma especialização na área? Então, saiba que se trata de um campo em expansão, inclusive no Brasil. Descobertas recentes sobre a relação entre comportamento e funcionamento do cérebro são resultados dessa expansão. Mas o que estuda a neuropsicologia? O interesse pela neurociência tem feito surgirem cursos de especialização, além do crescimento da literatura científica sobre o assunto. A neuropsicologia oferece ao profissional uma oportunidade ampla de escolhas quando se trata de mercado de trabalho. Portanto, não deixe de ler o artigo até o fim. Saiba agora o que estuda a neuropsicologia, quais as possibilidades de atuação e como são os cursos da área!
A neuropsicologia é um ramo da Psicologia, que estuda as lesões cerebrais causadoras de deficits em diversas áreas da cognição e praxia dos indivíduos. Mas, antes de tudo, o que é “cognição” e “praxia”? Em resumo, o termo cognição está ligado ao conhecimento, ou seja, à acumulação de informações que adquirimos por meio da aprendizagem ou experiência. Atualmente, a definição mais aceita é “habilidade para processar informações por meio da percepção”. Já as habilidades práxicas são aquelas relacionadas à atividade motora fina, em que a pessoa é capaz de realizar movimentos delicados com controle e destreza. Normalmente, essa capacidade é usada quando se manuseia uma tesoura e ao escrever, por exemplo. Segundo o Conselho Federal de Psicologia (CFP), o profissional dessa área estuda e atua no diagnóstico, no desenvolvimento, no tratamento e nas pesquisas relacionadas às emoções e comportamento das pessoas. É um ramo que já existia há muitas décadas, porém, apenas recentemente ganhou um campo de estudo e atuação exclusivo. A principal ferramenta dos neuropsicólogos é a avaliação neuropsicológica. Por meio de testes, conversas, escalas, questionários e observações o psicólogo consegue testar algumas habilidades mentais, como o raciocínio, a memória, o aprendizado, a linguagem, a organização de ideias e cálculos, por exemplo. O objetivo é detectar qual é alteração cerebral no indivíduo, a fim de poder relacioná-la com o deficit neurológico presente. Afinal, somente sabendo a causa do problema é possível instituir a melhor abordagem terapêutica para a pessoa.
Apesar de ser uma ciência do século passado, as raízes dessa área de atuação surgiram na Antiguidade. Entre as informações mais antigas descobertas sobre o sistema nervoso, destaca-se um papiro do Egito de 1700 a.C., descoberto no século XIX, escrito possivelmente por um médico. Nele, discutia-se sobre 48 casos em que havia histórias clínicas detalhadas, muito valiosas para o início da neurociência. Outro exemplo é a antiga Grécia, em que as concepções médicas eram dominadas por filósofos que acreditavam que a saúde era fruto da harmonia entre corpo e alma. Nesse período viveu Hipócrates, considerado o pai da medicina, que considerava o encéfalo como a área da inteligência e das sensações, e discutiu a epilepsia como um distúrbio desse órgão. Desde então os estudos sobre as diversas atividades que o tecido neural pode desempenhar vêm sendo aprimorados. Dessa forma, foram feitos numerosos estudos que visavam demonstrar que todos os complexos processos mentais eram resultados do funcionamento de áreas locais individuais do encéfalo. O termo neuropsicologia surgiu pela primeira vez em 1913, mas o seu desenvolvimento se deu a partir dos anos 1940. Havia a busca por estudar os soldados feridos que voltavam da guerra, pois alguns apresentavam lesões cerebrais e alterações de várias ordens (comportamento, memória, linguagem, raciocínio etc.). Com esses estudos, houve maior compreensão do papel do cérebro comandando os processos. Os anos 1990 ficaram conhecidos como a "Década do Cérebro", visto que o aprimoramento de técnicas de neuroimagem, como a tomografia computadorizada, possibilitaram a confirmação de interações entre as funções cognitivas e as áreas cerebrais. Evidências contribuíram para que a neuropsicologia ganhasse espaço hoje, como o caso do funcionário americano Phineas Gage. Em decorrência de uma explosão, ele teve o cérebro perfurado por uma barra de metal. Apesar de ter sobrevivido, seu comportamento sofreu mudanças drásticas. A lesão tinha provocado uma transformação comportamental tão grave que gerou interesse dos estudiosos em neurociências. Em 2004, o Conselho Federal de Psicologia reconheceu a neuropsicologia como especialidade da área.
O profissional da neuropsicologia trabalha em conjunto com outros profissionais, como pediatras, fonoaudiólogos, psicopedagogos e psicólogos, já que uma abordagem multidisciplinar é necessária para abranger todos os aspectos de uma dada patologia. Para identificar lesões cerebrais, o neuropsicólogo realiza a já mencionada avaliação neuropsicológica. Assim, é possível observar os efeitos cognitivos e comportamentais causadores de desordens neurológicas. A avaliação neuropsicológica pode determinar quais funções cognitivas estão preservadas e quais estão comprometidas. Como comentamos, esse tipo de avaliação mede determinadas habilidades e, a partir dessa avaliação, é possível saber o tipo de intervenção necessário para um determinado indivíduo.
Para pessoas de todas as idades. Em crianças, geralmente, a avaliação é voltada para alterações comportamentais muito ligadas às dificuldades de aprendizado. No entanto, também pode ser indicada para casos de depressão, transtornos psiquiátricos, suspeita de demência, Alzheimer e outros.
Para recomendar um tratamento de sucesso é preciso definir qual é o problema do paciente e como ele se apresenta. Dessa forma, é necessário realizar diagnóstico diferencial, visto que existem quadros clínicos com manifestações semelhantes, o que pode causar confusão e atraso no tratamento. Assim, a avaliação neuropsicológica é capaz de ajudar outros profissionais da área da saúde, como os médicos, a definir qual é a doença e a melhor forma de abordá-la.
Uma mesma doença pode se apresentar em diferentes graus, ou seja, existem indivíduos mais comprometidos que outros. Estabelecer o prognóstico é importante para determinar o curso de evolução da patologia e qual será o seu impacto ao longo dos anos.
As intervenções de tratamento podem abordar o funcionamento cognitivo, ou seja, o trabalho de reforço das funções cognitivas como a memória, linguagem ou outra alteração que acometa o paciente. É possível que o trabalho também atue no ambiente de convivência do paciente, tornando os seus familiares participativos no processo de tratamento e reabilitação. Em alguns casos também é indicado tratamento multiprofissional, com a ajuda de fisioterapeutas, fonoaudiólogos e outros profissionais da área de saúde. A avaliação neuropsicológica é capaz de delimitar melhor em que local (ou locais) do tecido cerebral está a disfunção. Sendo assim, fica mais fácil orientar qual é o tratamento ideal, assim como contribuir para a mudança na terapia medicamentosa e psicológica.
Ao avaliar quais são os pontos fortes e as fraquezas cognitivas, a avaliação neuropsicológica estabelece um guia que orienta os profissionais sobre quais funções devem ser reforçadas e aperfeiçoadas, e aquelas que devem ou podem ser substituídas por outras para facilitar o cotidiano do paciente. O objetivo é reinserir o indivíduo na comunidade o mais precocemente possível e, caso não seja possível, atuar na adaptação individual e no grupo familiar.
Atualmente, sabe-se que, para estudar determinada patologia ou manifestação, é preciso ter um número considerável de pacientes. Por meio da avaliação neuropsicológica, é possível separar as pessoas em subgrupos afetados pela mesma doença. Assim, torna-se mais simples e assertivo realizar pesquisas, tanto para abordagem psicossocial como para tratamentos medicamentosos. É interessante salientar que a pesquisa em neuropsicologia envolve o estudo de várias áreas, como as relacionadas às cognições, da personalidade, das emoções, do comportamento e do controle motor. Sempre se observa a ligação entre esses aspectos e o funcionamento cerebral, assim como o seu grau de acometimento. Para tanto, são usados testes neuropsicológicos, capazes de determinar o desempenho dos pacientes nas determinadas funções pesquisadas. Além disso, pode-se testar o uso de drogas que estimulam ou inibem essas funções, sendo observado o que é positivo para melhorar a qualidade de vida do paciente. Associado a isso, pode-se aplicar o uso de neuroimagens funcionais, como a ressonância magnética e a tomografia funcional de crânio, visto que estas permitem que áreas específicas do cérebro sejam mapeadas.
Devido à implantação do novo Código Civil, a decretação da interdição judicial se tornou mais criteriosa. Isso porque ela não é decidida simplesmente se houver presença de doença ou enfermidade mental declarada ou observada. É preciso que haja uma avaliação do grau de discernimento do portador de deficit cognitivo, a fim de servir como auxílio para a tomada de decisão dos profissionais da área do Direito. Nesses casos, a avaliação neuropsicológica se tornou um instrumento fundamental no convencimento do juiz quanto à decisão da interdição ser acatada ou não, por exemplo.
Após o diagnóstico, a reabilitação de um paciente é possível devido à plasticidade cerebral, que é a capacidade do cérebro de se autorregenerar. O neuropsicólogo pode auxiliar o paciente a reestruturar hábitos e melhorar as relações sociais, possibilitando uma maior qualidade de vida. Em resumo, a neuropsicologia é importante porque investiga as funções cognitivas, sensoriais, motoras, emocionais e sociais de uma pessoa, com o objetivo de detectar algum comprometimento funcional.
O neuropsicólogo pode trabalhar em alguns locais, como hospitais, clínicas, consultórios privados, escolas, atendimentos domiciliares, entre outras possibilidades. Ele leva em conta a orientação às famílias, o que é essencial para uma recuperação efetiva. Em se tratando de ambiente escolar, o profissional pode atuar de forma a avaliar as dificuldades dos alunos e como andam as suas funções executivas. É possível ainda trabalhar em clínicas de reabilitação, realizando diagnósticos e planejando propostas de intervenção para pacientes. Outro meio de atuação é dentro do ambiente acadêmico (realizando pesquisas), ou como docente, ajudando na formação de futuros profissionais. Sendo assim, é possível concluir que a área de atuação é bastante ampla. Logo, um neuropsicólogo pode atuar com:
A presença de neuropsicólogos vem aumentando consideravelmente em determinados espaços, como escolas (no melhoramento da aprendizagem), sistema judicial (para avaliar capacidades cognitivas), ou até agências de marketing (o chamado neuromarketing). O neuropsicólogo Daniel Kahneman ganhou o Prêmio Nobel de Economia devido aos seus estudos sobre como a forma de pensar pode influenciar os nossos comportamentos. Em seu livro, “Pensando, rápido e devagar”, Kahneman defende a tese de que a maior parte das nossas decisões é emocional. Assim, mesmo quando alguém acredita estar sendo racional, está agindo pela emoção. Isso explicaria por que as pessoas criam empatia por um indivíduo com base em sua fisionomia, ou por que professores tendem a dar notas mais altas para alunos que já se destacam na escola. Para dar outro exemplo, muitas escolas estão buscando profissionais de neuropsicologia para orientarem os pais e docentes em palestras. O intuito é informar e abrir um debate sobre os processos de aprendizagem, além de demonstrar como a neuropsicologia pode contribuir para o contexto escolar.
Como a neuropsicologia é uma área em crescimento, solicitada com frequência no momento do diagnóstico, existem muitos cursos de especialização disponíveis aos interessados. A pós-graduação em neuropsicologia clínica, por exemplo, capacita o profissional para a realização da avaliação neuropsicológica em pessoas com possíveis comprometimentos nas funções cognitivas. Dentro da grade curricular, algumas das disciplinas estudadas são: Psicofarmacologia, Neuroanatomia, Praxia e Memória, Funções Executivas, Métodos de Avaliação e Casos Clínicos. O público-alvo desse tipo de curso geralmente é composto de profissionais das áreas de Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Medicina e Psicologia. Vale diferenciar os termos “neuropsicologia” e “neurociência”, que podem ser confundidos. A neuropsicologia utiliza-se das descobertas da neurociência para interpretar o comportamento dos indivíduos.
De modo geral, especializar-se é sempre uma boa opção. Você se aprofundará sobre o assunto, tornando-se um especialista; será possível atualizar seus conhecimentos; você conhecerá novos profissionais e ampliará sua rede de contatos; há uma oportunidade de mudança de carreira e existem maiores chances de subir de cargo, obtendo melhores salários. Mas por que escolher especificamente a neuropsicologia? Entenda:
Se você é da área da saúde e tem interesse em ampliar conhecimentos, fazer uma especialização em neuropsicologia pode ser uma ótima ideia. O mercado de trabalho oferece várias opções, de acordo com o que tem mais a ver com seus objetivos. Para escolher um bom curso, verifique se a instituição é credenciada pelo MEC, as avaliações, o corpo docente, a grade curricular, e, é claro, se os custos são compatíveis com sua realidade financeira. E então, entendeu o que estuda a neuropsicologia? Se gostou deste artigo, não deixe de assinar a nossa newsletter para receber conteúdos exclusivos sobre psicologia em seu e-mail!
Categorias:psicologia, multiprofissional
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